Antes mesmo de Gretchen dançar “Conga la conga” e Carla Perez tremer os 102 cm de quadril todo domingo no Gugu, a dança já era a mais primitiva forma de expressão da sexualidade no Reino Animal.
No movimento dos corpos, macho e fêmea exalam substâncias químicas que podem ser captadas por animais de uma mesma espécie. Esse reconhecimento mútuo tem nome para a ciência: feromônios. Para se ter uma ideia da seriedade da questão, foram os feromônios que uniram Carla Perez e Xanddy, Scheila Carvalho e Tonny Salles e, menos rebolativos, papai e mamãe.
Culturas orientais revelam na dança o diálogo da sexualidade. Sim, diálogo, que também poderia ser chamado de segredo velado. Porque, neste caso, é sem voyer. Por sinal, aquela mulher coberta, que só revela o corpo ao marido, recebe um respeito tamanho, que o nosso olhar ocidental rotulou de submissão.
Mas é aqui, na terra da liberdade de crenças, que as mulheres dão a pata para o macho. Deturpamos o objetivo sexual da dança. Entenda sexualidade como diferente de genitália. Está lá nas teorias freudianas. Sexualidade não é só pênis e vagina. O conceito é tão amplo que só ralando muito cérebro no asfalto nossos pagodeiros conseguiriam entender onde Freud quis chegar.
O que mais se vê são mandos e desmandos em letras pejorativas de um pagode baiano desviado e, por que não citar, de um chulo funk carioca. E isso não tem nada a ver com puritanismo. Pagode e funk também produzem material que identifica bem a cultura popular. Já o restante, descartável, vai para o lixo junto com a molestada imagem feminina.
Mas voltemos a olhar para o nosso umbigo. A verdade é que a música baiana deixou cair o tapa-sexo no circuito Barra-Ondina faz tempo. A baixaria confunde os antropólogos e não se sabe mais até que ponto esse tipo de manifestação é culturalmente relevante. As mulheres não queimaram sutiãs para procriar aberrações. Música é poesia. De Vinicius a Bocage, dá para se acasalar sem ofensas. Do jeito que se canta por aí, nem mesmo as pedras que Chico Buarque ousou jogar na Geni poderiam doer mais.
Egberto Siqueira egbertosiqueira@blogdafeira.com.br
0 Comentários:
Postar um comentário