Crédito: Observatório da Imprensa
À beira do ridículo
É preciso considerar que essa operação recebeu ampla divulgação nos dias anteriores, o que incluiu anúncio de página dupla na própria Folha no domingo. Além disso, o cardápio apresentado aos telespectadores tinha alguns atrativos de grande interesse, como a volta de Chico Buarque aos palcos, o caso da Cracolândia e entrevista com o especulador Naji Nahas, personagem central na desocupação do bairro Pinheirinho, em São José dos Campos.
Será interessante acompanhar a participação da revista Veja, nas noites de terça-feira, e as anunciadas estreias do Estado de S. Paulo e do Valor Econômico em programas específicos na TV Cultura, para analisar o resultado dessa estratégia nos indicadores de leitura dos jornais.
Pelo que tem sido divulgado, não há restrições estatutárias ou legais que impeçam a emissora educativa do estado de São Paulo de fazer parcerias como as que estão sendo produzidas com empresas privadas de comunicação.
Mas há alguns elementos periféricos a serem considerados, como a possibilidade de instrumentalização política da programação da emissora e seu uso para a editorialização de questões controversas.
Por outro lado, é interessante analisar os movimentos que a imprensa tradicional tem feito para se adaptar aos novos hábitos de consumo de mídia, principalmente por parte do público mais jovem.
Na programação apresentada pela Folha na TV Cultura podia-se notar que o esforço por imitar certo estilo MTV em alguns quadros andou beirando o ridículo, como na reportagem sobre irregularidades no uso de caçambas na capital paulista, com entrevistas, aos gritos, improvisadas nas ruas. O estilo já é usado pela Globo nojornalismo local, com a atuação histriônica do repórter Marcio Canuto.
Em busca do público perdido
Chega a ser estimulante imaginar o que faria a revista Veja ou o vetusto Estadão para se apresentarem a esse público.
Não custa lembrar que, há duas décadas, quando o jornalão paulista tentou se renovar para enfrentar o crescimento do seu maior concorrente, a Folha saiu-se com um anúncio no qual o Estadão era mostrado como um senhor idoso de cabelos azuis.
Além disso, a sigla MTV já não representa o público jovem há pelo menos vinte anos.
A rigor, o que se percebe é que a imprensa tradicional não tem modelos a copiar e não se mostra capaz de criar sua própria solução para o desafio de se manter relevante num cenário mutante em que o próprio conceito de público parece estar em transformação.
O que seria, de fato, o chamado espaço público na circunstância em que milhões de indivíduos, deliberadamente, abrem sua privacidade à curiosidade alheia?
Por outro lado, que valor passa a ter a informação supostamente privilegiada como o produto jornalístico, no cenário difuso em que praticamente tudo é notícia?
Nessas circunstâncias, a única abordagem possível de qualquer instituição que tenha interesse em se destacar deve começar pelo reconhecimento da nova complexidade inerente ao ambiente midiático.
Acontece que a imprensa tradicional é uma estrutura rígida, não um sistema adaptável. Não estando disposta a se deixar conduzir pela dinâmica social mais complexa, resta-lhe pouco mais do que aplicar uns piercings em seus modelos envelhecidos.
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