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30 de mar. de 2012

Isto é Gente entrevista Thunderbird

"Quando eu mudei para o Rio,
pensava que fosse parar de
cheirar. Mas importava um
traficante de São Paulo. Pagava
passagem de avião, para ele vir
me fornecer."
“Comprava droga para não me matar”
O VJ deu “bolo” em José Bonifácio Sobrinho, o Boni, porque não conseguia parar de cheirar cocaína e diz que só não se suicidou porque tinha dinheiro para se drogar

Em sua estréia na vida artística, o paulista Luiz Fernando Duarte já fazia apologia às drogas. Cannabis Sativa, sua primeira banda, criada nos anos 80, não durou muito tempo porque, segundo ele, “acabou o baseado”. Em 1986, com a criação do grupo Devotos de Nossa Senhora, nascia Thunderbird, copiando o nome do glamouroso Ford dos anos 50. De lá para cá, Thunder virou VJ da MTV, trabalhou na Globo e na extinta Manchete. Longe da tevê, conheceu na pele o submundo das drogas. Hoje, aos 39 anos, o quadro é outro. Além de apresentar os programas VJ por um Dia e Tempo MTV, ele corre cinco dias por semana para participar da corrida de São Silvestre, no final do ano, faz musculação, nada e joga tênis. Uma vitória sua na São Silvestre seria a realização de um sonho. Mas se ela não acontecer, tudo bem. Afinal, ele comemora outra vitória: “Estou há três anos, dois meses e dez dias sem me drogar”, disse Thunder a Gente.

Você tem medo de altura?
Pavor. Mas participei da corrida dos degraus no prédio do Banespa. Subi 32 andares, 820 degraus, em 7 minutos. Também saltei de pára-quedas, com o Jacaré do É o Tchan acoplado em mim – no bom sentido. Lembro que, quando puxei a cordinha, o Jacaré disse: “Ah, que bom, abriu!” Quase dei uma cotovelada nele.

Completa dez anos de tevê?
Sem dúvida que sim (bordão de Thunder). Quando entrei na sala do Roger Karman, que era o chefe da MTV na época da minha contratação, ele falou: “Hã, Thunderbird, não é? Eu prefiro os antigos” (referindo-se aos Ford Thunderbird dos anos 50). Aí, eu respondi: “Pois é, eu sou de 1961, eheheh!” Rolou uma empatia.

Você deixou de ser dentista?
Em 1984 saí viajando pelo Nordeste, vendendo calcinhas pintadas à mão pela rua. Se não fizesse isso, seria um dentista gordo, com bico de papagaio, cego do olho esquerdo e surdo do direito. Também não cobrava dos amigos. Com o tempo meu consultório só servia para os ensaios da banda. Aí, pulei fora.

O que fazia no Nordeste?
Ficava fumando maconha na praia. Vivia de água de coco, caldo de cana e acarajé sem recheio.

E sobre seu visual? O que acha de seu queixo saliente?
Na faculdade meu professor de cirurgia, Édio Baesa, queria me operar. Eu não quis.

Tinha complexo por isso?
Era conhecido como Garibaldo e O Inevitável Queixada, mas sempre tive namoradas bonitas. Fernando Vanucci, por exemplo, conseguiu comer a Regininha Poltergaist e a Marinara? Impossível. Olha para o cara! Ele é ridículo! Deve ter algum truque.

O queixo é sua arma na tevê?
Só estou na tevê por causa do queixo.

O que buscava com as terapias?
Auto-afirmação e autoconhecimento. Fui fazer uma terapia com uma garota da faculdade e, coitada, ela desistiu de mim. Internei a médica. A primeira terapia séria que fiz foi em 1989, por causa das drogas.

Como foi isso?
Na faculdade, aos 18 anos, fui fazer a cabeça de um amigo para deixar de fumar maconha. Não consegui convencê-lo e acabei experimentando. Em poucos meses estava fumando muito. Subia e descia morros para negociar com traficante. Cheguei a viajar para uma praia com meio quilo de fumo. Se fosse pego, ia direto para a penitenciária. Só não virei traficante, porque não conseguia repartir.

Como vivia nessa época?
Trancado dentro do quarto da casa dos meus pais, dominado pelas drogas. Ninguém me suportava. Tinham acabado meus empregos. Ganhava R$ 200 por mês, fazendo matérias para um jornal. O dinheiro ia direto para os traficantes.

Você conseguia trabalhar?
Na Globo, eu sabia que o Boni, o Boninho, o Walter Lacet e o Rogério Gallo me esperavam para gravar o TV Zona (programa que ficou no ar apenas dois meses). Mas não conseguia parar de cheirar cocaína no hotel. Eu falava: “Vou me f., vou me f.”! Não me matei porque, sei lá, não acabava a droga. Tinha muito dinheiro. É isso: para não me matar comprava droga.

"Um dia arrombaram o
quarto do hotel. Estava
desmaiado. Acordei com
uma conversa entre a
camareira e um assistente:
'Acho que ele morreu'"
E você os deixou esperando?
Sim. Uma vez meu empresário marcou uma reunião com o Boni, no Rio. Às 10 horas ele me ligou: “Não vai esquecer do almoço com o Boni, às 12 horas”. Estávamos em São Paulo e falei para ele embarcar na minha frente. Às 11 horas meu empresário chegou no Rio e perguntou se eu estava no avião. Disse que estava no táxi. Meio dia ele ligou de novo. “Estou com o Boni. Você já chegou?” Dei uma aspirada no bocal do telefone e disse que não. Ele me xingou muito. Dizia aos berros que eu havia deixado o homem mais importante do Brasil esperando. Virei para o cara e disse: “Vai se f.”

No Rio, quando fazia o TV Fama, em 1994, consumia menos?
Pensava que fosse parar de cheirar porque não teria um traficante me instigando. Precisava muito parar, cara. Mas sabe o que aconteceu? Eu importava um traficante de São Paulo literalmente. Pagava passagem de avião para ele vir me fornecer. Morei no Rio quase um ano e só saía do quarto do hotel para ir ao caixa eletrônico. Estava a 100 metros da praia, mas não pisava na areia. Depois de um mês já era amigo do pessoal do morro da Dona Marta.

Você não saía do apartamento?
Tinha muito medo. Cheirava absolutamente sozinho. Cheguei a pagar para garotas de programa conversarem comigo. Fazia terapia com prostitutas, sabe o que é isso? Elas me viam cheirando e falavam: “Você está louco! Vamos conversar e sair para passear”. Não tinha Cristo que me tirasse dali. Um dia arrombaram a porta do quarto. Eu estava há dois dias desmaiado no chão. Acordei com uma conversa entre a camareira e um assistente: “Acho que ele morreu. Vamos chamar a polícia”. Derrubaram a porta, porque um motorista estava no hotel para me levar à Globo. Só que me chamavam e eu não respondia. Quando estava na MTV também bateram na porta da minha casa e pensaram que eu havia morrido. As drogas prejudicaram meu trabalho na Globo. Gravava louco. Se estivesse careta, a coisa seria diferente.

Já ficou devendo para traficante?
Fiquei devendo R$ 800 uma vez. Encontrei o cara num café, em São Paulo, um ano depois que parei com tudo. Ele me deu os parabéns, mas me cobrou. Depositei a grana e ele me disse, num outro dia: “Gostei de ver. Você é sujeito dez. As portas estão abertas da firma”.

E seus pais, como viveram essa sua fase?
Minha mãe, coitada, não sabia como me ajudar. Quando saí da clínica, ela e meu pai começaram a se tratar. Não usavam nada, mas viveram o terror de quem usa. Eram co-dependentes e também adoeceram. Depois que saí da clínica, em 1997, morei um ano na casa dos meus pais e fui sustentado por eles.

Quando decidiu se tratar?
Em 1997, um amigo que usava comigo me indicou uma clínica. Fui. Para o meu azar o cara que me entrevistou era um que se acabava nas drogas comigo. Não acreditei em nada e pulei fora. Procurei as irmandades anônimas e fiquei quatro dias sem usar. No quinto, só não usei porque tive uma dor de dente. Aí, senti medo de voltar a usar e me internei durante 35 dias. Salvei minha vida.

Como conseguiu?
Logo que entrei na clínica, queria uma suíte só para mim, limusine e massagista tailandesa. Agia como se fosse um palhaço. Descia para o café da manhã e fazia atividade física de roupão. Aí deixei o personagem de lado e quis recuperar o Luiz Fernando.

E as crises de abstinência?
Ainda hoje, mais de uma vez por semana, tenho vontade de usar. Me livro da tentação dizendo para mim mesmo: “Amanhã quem sabe. Hoje, não”. Só na primeira semana, estive perto de fugir várias vezes da clínica e ir para um hotel cinco estrelas.
Nem cigarro você fuma mais?
Parei de fumar no parque do Ibirapuera. Corri 200 metros na pista de cooper e comecei a tossir e sentir falta de ar. Duas garotas viram a cena. Fiquei mal e decidi nunca mais fumar. Este ano, no dia do combate ao fumo, vou erguer uma placa com os dizeres: “Aqui jaz um fumante”.

Está curado?
Estou há três anos, dois meses e 10 dias sem me drogar. Vou às reuniões de uma irmandade anônima cinco vezes por semana. Tenho três afilhados, pessoas para as quais passo mensagens e ajudo na recuperação.

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